domingo, maio 22, 2011

Rabiscos num diário

Nota da autora: os trechos subsequentes as datas, são trechos de músicas distintas da banda Oasis. Estava ouvindo no aleatório quando caiu em uma das minhas músicas prediletas deles, quando ouvi o trecho surgiu a ideia, então aí está.

28 de Março de 1999, 4h17min a.m

"You're lost at sea. Well, I hope that you drown."

Jogou-se no sofá, as pernas penduradas e balançando enquanto o corpo pendia para o lado. Encarou o forro de madeira, já velho e com alguns buracos. Decifrou a forma de algumas das manchas escuras - como costumava fazer com as nuvens quando se deitava na grama do quintal ao lado de seu pai - e pouco iluminadas pelo abajur. Sentiu-se nostálgica. Enfiou a mão no bolso do jeans desabotoado - a calça era surrada e estava com as barras sujas, mas ela nunca se importava - tirou seu isqueiro e brincou com ele entre os dedos por um minuto, soltou algumas faíscas e então decidiu acender um cigarro. Sentou-se, tomou um gole do café frio e amargo e tragou a fumaça.

15 de Junho de 1999, 5h39min p.m

"I don't belive that anybody fells the way I do about you now"

Sentada no terraço, sentindo o vento frio da estação corta-lhe as bochechas e a mão quente que se entrelaçava na sua aquecer-lhe a alma. Não se atreveu a olhar para ele e sabia que tão pouco ele se atreveria a olhá-la.
Sabiam que era o silêncio que sustentava o momento.

20 de Junho de 1999, 00h01min

"And in your head do you fell what you're not supposed to fell"

Subiam as escadas discutindo furiosamente. Ela gritava e soltava uma enxurrada de ironias, algum dos vizinhos abriu a porta e os xingou. Se quer escutaram.

2 de Julho de 1999, 9h23min a.m

"What's going to do, vanish? I'ts not going to be there when I get back?"

Jogou algumas palavras em um bilhete rasurado e sujo das cinzas que caiam da ponta do cigarro que estava preso em seus lábios vermelhos. Olhou uma última vez para os lençóis bagunçados da cama de casal, onde a pouco e muitas outras vezes esteve enroscada no corpo quente dele, e fechou a porta atrás de si. Ela não sabia para onde iria, sentiu que precisava ir e foi.

2 comentários:

  1. Você narra tão bem (e eu acho que já falei isso). E as coisas mudam rápido. É gostoso perceber as mudanças, por mais que na hora pareça infernal. Essa é a magia do diário, hihi

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  2. Pode repetir quantas vezes desejar, prometo fingir ser a primeira, rs. Muito obrigada! E você parece ser a única a ter "pescado" a minha intenção, acontece, hehe.

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